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21.1.07

Por que os brasileiros estão ficando de fora de uma das maiores febres do mundo da tecnologia


MÚSICA DIGITAL
Excluídos do iPod

Um dos maiores fenômenos no mundo da tecnologia é o iPod, o aparelhinho da Apple que toca músicas no formato MP3. De acordo com as previsões do conceituado instituto de pesquisa americano Bridge Ratings, até 2010 serão vendidos 283 milhões de aparelhos tocadores de MP3 e 45 milhões de pessoas usarão esse tipo de equipamento. Até o papa Bento XVI é fã do iPod. Em seu modelo Nano, o papa guarda mais de 300 faixas de Mozart, cânticos sacros e emissões da Rádio Vaticano. 'Tecnologia de computador é o futuro', costuma dizer o pontífice. Mas essa é uma revolução que, no Brasil, tem tido um impacto menor que outras inovações, como blogs e os vídeos on-line.

Quais os motivos desse atraso brasileiro? O primeiro, e principal, é o preço do aparelho. No Brasil, um iPod Nano igual ao do papa, com capacidade para armazenar 500 músicas, custa R$ 1.190. Já o iPod em que cabem mil músicas sai por R$ 1.490. Nos Estados Unidos, os mesmos modelos custam, respectivamente, US$ 199 e US$ 299. Cerca de 55% dos jovens americanos com menos de 18 anos já têm um iPod. A Apple, fabricante do aparelho, afirma ter vendido 43 milhões de iPods no mundo. Os números brasileiros são mantidos em segredo.

Quem traz um iPod na bagagem quando volta do exterior enfrenta outro inconveniente. O brasileiro não pode comprar faixas musicais no iTunes Music Store - site da Apple que possibilita a compra legal dos arquivos. O iTunes só permite downloads para usuários de 21 países, e o Brasil ficou de fora. De acordo com a Apple, não há previsão de quando o iTunes entrará em funcionamento no país. Sem ele, o proprietário de iPod tem três opções para carregar seu aparelho: copiar as faixas dos próprios CDs, comprá-las em uma das lojas brasileiras com poucas opções musicais ou - a opção mais comum - piratear as músicas.

A loja iTunes, hoje responsável por 83% de todas as músicas baixadas legalmente na internet, e o aparelho iPod foram a grande inovação de Steve Jobs que permitiu legalizar, pelo menos em parte, a distribuição de música na internet. Eles também foram fundamentais para o surgimento das gravações digitais de programas de rádio veiculados por sites ou pelos próprios internautas, fenômeno conhecido como podcast - em 2004, os usuários de podcast eram estimados em 820 mil; em 2005, já eram 4,8 milhões.

Os problemas para quem tem iPod, porém, não estão restritos ao Brasil. Mesmo nos 21 países em que a loja iTunes funciona, há limitações. Na França, estuda-se uma regulamentação para exigir que a Apple permita a outras companhias desenvolver produtos compatíveis com iPod e iTunes. As gravadoras, insatisfeitas com a queda nas vendas de CDs e com a pirataria de faixas, também resistem a colocar suas faixas na loja da Apple. Tente, por exemplo, comprar legalmente qualquer música dos Beatles na internet e você não conseguirá.

Os donos dos direitos autorais estão até processando a Apple para impedir que a empresa use o símbolo da maçã, marca registrada dos Beatles, para vender músicas na internet. O colunista Steven Levy, da Newsweek, afirmou: 'John Lennon uma vez descreveu os Beatles como mais populares que Jesus. Mas, em 2006, a internet é maior que os Beatles. Em vez de combatê-la, eles poderiam usá-la para revigorar sua glória'.